Apesar de considerar prova "equilibrada"
Associação de professores faz reparos ao exame de Biologia e Geologia
A prova escrita de Biologia e Geologia do 11º ano, realizado na passada quinta-feira, foi “equilibrada” e “contextualizada com o programa” sustenta um parecer da Associação Portuguesa de Professores de Biologia e Geologia, enviado hoje ao PÚBLICO. Mas a associação fez reparos a seis questões. O Ministério da Educação diz que não há razões para alterar critérios.
A discussão sobre as questões e propostas de correcção do exame por parte de professores, pais e alunos está patente na caixa de comentários do PÚBLICO da notícia “Houve uma errata mas o problema em Biologia até pode ser o Português”, e até já teve direito a uma petição e a um grupo no Facebook.
A associação de professores deu agora um parecer sobre o exame, referindo que “globalmente a prova pareceu equilibrada, contextualizada com o programa (…) e apresentando um tamanho adequado à duração proposta.” Em relação às dúvidas, das 29 questões, houve reparos a seis. As mais graves foram referentes a questões sobre ciências da Terra.
No grupo I, com questões desenvolvidas a partir de um enunciado que descreve um caso de uma região de Portugal que tem dois granitos diferentes, a associação critica duas questões. A pergunta 2, de resposta múltipla, obrigava a identificar a diferença e a semelhança entre os granitos. A textura, que em geologia refere-se aos diferentes constituintes de uma rocha, seria uma das diferenças. Mas segundo a associação, “apesar de um ponto de vista petrológico” a diferença ser evidente no texto, os “examinados, balizados pelos conceitos claramente enunciados pelo programa [da disciplina], facilmente indiciariam idêntica textura em ambos”.
A pergunta quatro do mesmo grupo também causou críticas. Nesta questão pedia-se para explicar em que é que as fortes amplitudes térmicas eram responsáveis pela erosão física que causa um fenómeno geológico chamado “pedras parideiras”. Na proposta de correcção é exigido que se mencione o “efeito da crioclastia, quando o que é perguntado é apenas qual o efeito das variações da temperatura”, escreveu num comentário Luísa de Lisboa, a criticar o exame.
A leitora defendeu que a variação de temperatura “remete para a termoclastia” e que não há indicações que seja “necessário mencionar o gelo”. Paula Canha, professora da Escola Secundária de Odemira, defende que “um aluno pode explicar perfeitamente [o fenómeno] por acção das amplitudes térmicas sem referir que a água congela nas fracturas”, explicou ao PÚBLICO por email. A associação de professores refere simplesmente que o fenómeno não é explicado pelo aparecimento de fracturas nas rochas – que está na proposta de correcção.
Na pergunta 7 do grupo III, onde se pedia para colocar em sequência fenómenos que aconteceram durante a formação da Terra, há mais críticas. “Basta trocar uma letra em 7, de duas ordens bastantes discutíveis”, para se ter a resposta mal, argumentou um leitor anónimo. Neste caso a associação concede a mesma crítica explicando que três das sete frases descrevem fenómenos “interligados e simultâneos”.
Relativamente à Biologia, a maior crítica diz respeito à pergunta 6 do grupo II onde é necessário relacionar o fitoplâncton à produção primária de biomassa para se ter a questão de resposta múltipla correcta. Esta expressão, apesar de estar certa, “não surge patente no programa da disciplina”, diz o parecer. Neste caso Paula Canha discorda, explicando que o conceito de biomassa é sempre igual em qualquer contexto. “Os alunos devem perceber porque é que o fitoplâncton produz biomassa, no fundo é perceber a importância da fotossíntese para os ecossistemas”, diz.
Gave não altera
Houve mais dois reparos em todo exame, um sobre uma gralha no texto do grupo IV que não tinha consequência nas respostas e outro na representação do eixo do rifte na figura 6 do grupo III. Quanto à parte do exame que causou mais polémica devido a haver uma correcção durante a prova – respeitante ao texto e esquema de arranque do grupo II sobre o ciclo de vida de um grupo aquático pouco conhecido chamado rotíferos – a associação não fez qualquer menção.
Segundo o Gabinete de Avaliação Educacional do Ministério da Educação (GAVE) esta errata não chegou a 260 alunos, de entre 38795 que realizaram o exame. Apesar do GAVE salientar que a “ausência da nota não tinha implicações na resolução do item”, algo que Paula Canha também concorda, o gabinete vai “monitorizar rigorosamente a classificação das provas dos alunos que não receberam a errata”, explicou ao PÚBLICO, por email, uma das assessoras de imprensa do ME. Quanto às críticas aos critérios de correcção, o Gave afirma que respeita a nível científico a opinião da associação de professores mas aponta que é o programa da disciplina o único referente para a elaboração dos exames. Por isso “não há razões objectivas e fundamentadas para proceder a qualquer alteração dos critérios de classificação.”
Há ainda uma crítica mais geral, patente nos comentários, sobre a disparidade do nível de dificuldade dos exames que Paula Canha concorda. “O grau de dificuldade dos testes intermédios e exames deveria ser semelhante e não é”, assim como “o grau de dificuldade dos exames, de ano para ano, não é consistente.” A professora é da opinião que o exame pode ter uma estrutura “que permita que os alunos que estudaram e sabem a matéria tenham uma positiva, mas simultaneamente ter um lote de questões que permitam distinguir aqueles alunos que chegam mais longe”.
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