quarta-feira, 29 de setembro de 2010

22 por cento das espécies vegetais estão em vias de extinção

2010-09-29
CienciaHoje

Em ano de biodiversidade, o estudo «Plants under pressure – a global assessment (The first report of the Sampled Red List Index for Plants)», publicado hoje, revela que mais de 20 por cento de espécies vegetais estão ameaçadas de extinção.
Maior parte das espécies ameaçadas são de florestas tropicais
http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=45288&op=all#

 

O Jardim Botânico Real de Kew, o Museu de História Natural Britânico e a União Internacional para a Conservação da Natureza publicam esta primeira avaliação de espécies, onde se informa que as actividades humanas são responsáveis por 80 por cento da extinção em curso e que o habitat mais ameaçado é a floresta tropical.
No estudo, realizado ao longo de cinco anos, examinou-se uma amostra representativa das 380 000 plantas conhecidas em todo o mundo.
Das sete mil espécies analisadas, em representação de cinco grandes grupos de plantas (monocotiledónea, briófitas, pteridófitas, gimnospérmicas, legumes) 22 por cento foram classificados como «ameaçados». Desses, quatro por cento estão em «perigo crítico», sete em «perigo» e 11 por cento «vulneráveis».
Os investigadores explicam também que 33 por cento das espécies não são suficientemente conhecidas para que o seu estado de conservação possa ser caracterizado.
A maior parte das espécies ameaçadas são oriundas de florestas tropicais e de algumas ilhas a meio do Pacífico e do Atlântico, como a da Páscoa e das Bermudas, respectivamente.

Stephen Hopper, director do Jardim Botânico Real, considera que este estudo pode ser um instrumento essencial para “combater a perda de biodiversidade”.

«Plants under pressure – a global assessment» é publicado a algumas semanas da Convenção Sobre Diversidade Biológica, organizada pela ONU e que se realiza entre 18 e 20 de Outubro, em Nagoya (Japão).

Lesmas-do-mar mais eficientes na fotossíntese do que algas

Investigadores portugueses reportam processo evolutivo de cleptoplastos


2010-09-29
CienciaHoje
"Lesmas-do-mar movidas a energia solar" (fotografia: Bruno Jesus)
Investigadores portugueses descobrem que lesmas-do-mar fotossintéticas podem ser mais eficientes na fotossíntese do que as próprias algas que consomem. Já há muito tempo se conhece uma destas espécies com uma capacidade invulgar: guardar alguma da maquinaria das células das algas que consomem (os cloroplastos – as estruturas mais importantes para a fotossíntese) e mantê-los funcionais dentro das suas próprias células, produzindo assim parte do seu próprio alimento através da fotossíntese, tal como uma qualquer planta.

Este grupo de lesmas-do-mar, denominados sacoglossos, foi igualmente baptizado de “Lesmas-do-mar movidas a energia solar” (solar-powered seaslugs no original inglês). Até agora, conhecem-se no mundo 300 espécies e vivem todas em águas pouco profundas, associadas a algas verdes que frequentemente observamos nas praias.

O mais curioso desta associação é que não se trata de uma simbiose entre dois organismos, como acontece entre os corais e as microalgas que dentro deles vivem, mas entre um animal e um organelo celular de um vegetal – o cloroplasto – que não é digerido quando passa pelo tracto digestivo da lesma e se mantém funcional. Estas estruturas, “roubadas” às algas, passam a ter o nome de cleptoplastos.
Estes cleptoplastos podem produzir energia tal como o faziam na alga durante algumas semanas ou até meses, sendo portanto um bom complemento ao consumo das algas pelas lesmas. Num artigo publicado a semana passada, no «Journal of Experimental Marine Biology and Ecology», os investigadores portugueses Bruno Jesus, Patrícia Ventura e Gonçalo Calado reportam uma importante descoberta relacionada com as prestações destes cleptoplastos.

Estudando a espécie de lesma-do-mar Elysia timida e a alga de que se alimenta Acetabularia acetabulum demonstraram que o rendimento fotossintético em condições de luz alta, semelhante à do ambiente em que vivem, é maior nos animais que nas algas. De facto, nestas condições de luminosidade, os cloroplastos das algas entram facilmente num processo denominado fotoinibição, que baixa o rendimento do processo de fotossíntese.

Ao contrário, os cleptoplastos que estão nas células das lesmas, beneficiam de uma protecção de umas estruturas móveis, os parápodes – prolongamentos da pele do animal -, que se podem abrir ou fechar consoante a quantidade de luz ambiente, fazendo com que o processo e fotoinibição diminua. Além disso, foi também observado que estes animais tendem a afastar-se das zonas com luz alta, o que as algas não podem fazer. É como usar o melhor de dois mundos: fazer fotossíntese como uma planta, abrir ou fechar-se e mudar de sítio, como um animal, segundo as condições de luz.

A Elysia timida alimenta-se da alga Acetabularia acetabulum (fotografia: Bruno Jesus)
Inovação evolutiva

“É fascinante como um animal pode ser ainda mais eficiente fazer fotossíntese do que a alga a quem roubou a maquinaria!”, comentou Bruno Jesus, investigador do Centro de Oceanografia e primeiro autor do estudo. “Algures, no decorrer da evolução, esta associação terá sido fortemente benéfica para este grupo de lesmas-do-mar, provavelmente na colonização de águas pouco profundas. Embora este processo evolutivo esteja longe de ser entendido, é certamente uma lição a ter em conta que demonstra que as inovações evolutivas têm muito menos fronteiras do que “a priori” poderíamos pensar”, acrescentou.

Este trabalho é o primeiro resultado de um projecto financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia chamado SymbioSlug, coordenado pelo Instituto Português de Malacologia e tendo como parceiro o Centro de Oceanografia, que pretende estudar a fisiologia desta curiosa relação entre animais e plantas, que até agora levantou mais perguntas que respostas.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Floresta portuguesa está a regenerar-se espontaneamente

Abandono da agricultura é apontado como causa principal

2010-09-24
CienciaHoje

Sobreiro é uma das espécies indígenas
A floresta portuguesa está a passar por um fenómeno de regeneração espontânea apontado hoje por especialistas da área como a forma “mais barata” de solução para o abandono do mundo rural e para as suas consequências gravosas, como incêndios florestais.
Afinal, dizem os peritos, a solução pode estar no próprio problema pois é o despovoamento e o abandono da agricultura tradicional que parecem estar a impulsionar esta “regeneração natural, com espécies indígenas de Portugal a brotarem espontaneamente por todo o lado”.

O fenómeno foi hoje abordado no final da conferência internacional que juntou durante quatro dias, em Bragança, cientistas de 46 países, numa iniciativa do grupo de ecologia da paisagem da IUFRO, a União Internacional de Organizações de Investigação Florestal.
Os desafios e soluções para as terras agrícolas abandonadas, como acontece nas regiões portuguesas do inteiro, mas também em toda a Europa, foi o tema do último simpósio.

As florestas autosustentáveis são a proposta dos investigadores Carlos Aguiar e Henrique Miguel Pereira para a transição.
“Mais do que plantar floresta de novo é cuidar da que está a nascer e está a nascer muita floresta por todo o lado. É uma boa política identificar onde essa floresta está a nascer e apoiá-la e cuidá-la, e é uma forma barata de o fazer”, defendeu Carlos Aguiar.

Espécies indígenas

A primeira medida para este investigador deverá passar por “apostar em apoiar esta regeneração natural de espécies indígenas de Portugal como os carvalhos, azinheiras e sobreiros, que está a surgir espontaneamente por todo o lado”.
O espaço para esta regeneração foi cedido justamente, segundo dizem, pelo abandono da agricultura e o despovoamento.

O reaparecimento destas espécies dar um contributo “a médio prazo” para haver menos fogos florestais em Portugal, na opinião de Henrique Miguel Pereira.
Este investigador, que já teve responsabilidades no Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) não entende “como é que o sistema de combate aos incêndios ainda não tomou como máxima prioridade proteger as zonas de regeneração florestal”.
Trata-se, garantem, de espécies mais resistentes e com potencial económico de produção de madeira ou outros bens como cogumelos, mas também de conservação da natureza.

Soluções não descartam agricultura

Henrique Miguel Pereira reconhece que esta “transição não é um sistema simples porque exige um envolvimento social e que haja uma visão partilhada pelos diferentes actores do que se pretende para o futuro destas regiões”.
As soluções teriam de ser adaptadas às diferentes realidades e, asseguram, que continuaria a haver espaço para a agricultura.
Sublinham, no entanto que “onze por cento da superfície de Portugal está acima dos 700 metros, onde o uso agrícola provavelmente não será recomendável”.
O que consideram que “não pode continuar a acontecer é o avanço do mato com uma série de problemas associados em termos de ocorrência de fogos, e desfavorável à biodiversidade”.